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Poetas Imaginárias

Estudo de botânica 5

Estás viva por mais de um século
Cada extremo abana em uma década
Viu Afonso IV à sua esquerda
No ramo direito a 82 graus está
A queda de Galiza
E a raiz ainda está viva foi pelos
Mortos do Cerco de Badajos
Anote: giminosperma com eixo polioidal

Onde dentro de sua casca
a história de Portugal é contada
como uma sucessão de círculos

suspensos são a argola da cigana andaluza
ela nem precisou ver nossa mão
para rir e assim convencer
a rumbla a existir

Astra Toledo

As irmãs

a)
tinha ao todo cinco irmãs. a maior quando ficava perto da mais pequena era a menor. a menor dentro da mais fofoqueira era um pouco mais alta em braços. a do meio se estivesse a direta nos fotos era a mais esperta. a que nasceu primeiro dentro da irmão morta era a irmã mais silenciosa. dentro da irmã mais magra a irmã maior era a mais jovem. e dentro da irmã maior a mais jovem era a mais cautelosa. a irmã de fora era boa de matemática quando estava de fora. e as irmãs todas dentro das fotografias eram incontornáveis.

b)
e a foto das cinco irmãs dentro da sala de casa era uma rua muito pequena e sem saída. uma rua de bica.

Neusa Durán

Enjoo de Terra

V.

Não é a terra o cio do mundo. Na terra morremos, e só.

A água é onde flutuamos. Contra o mundo, flutuamos. Sem pátria ou pista rastreável.

A pátria é o que transforma tudo em terra. Até o ar , as ondas e o gelo das nuvens.

Porque morremos até mesmo longe da terra e somos enterrados até mesmo longe do barro ou da areia, porque a tumba flutua, dizem:

ó, tens este, aí, pátria.

XI

A pátria já aconteceu. Eis sua estratégia.

E tenho essa náusea acumulada

Do que vem de trás pra frente.

Onde não retorno, sei: vivi.

E perco meu nome como quem perde a terra:

E tiro o espaço de mim.

Ataúlfa Inês da Cunha

Vestida de cetim

Mama Soledad prometeu-me uma saia será tão mas longa
Roubará o comprimento do Rio Amazonas;
Usará a distância de Paris à Viena;
Minha saia será como um lago calmo tecido na primavera;
Lá poderei acampar sozinha e suspirar sem medo;
Será como um suspiro onde morarei colocando as mãos afora;
Apenas para degustar o chá;
Apenas degustar sem tomar ou comer para não perder o manequim
Deste gigante tecido;
Muito grande é verdade mas aperta que aperta mesmo assim.

Tenho sorte pelo rio, por tê-lo, ao menos na metáfora!
Que afundem todas embarcações. As minhas são a própria água.

As Anônimas

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