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Mar Ruído
levar um bolo
o vento embolando o guaíba
o microfone embolorado
20 de setembro de 2018
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desde que foram inventados os rádios
a televisão, telecomunicações, a ficção eletromagnética
o nosso mar não cabe mais na imagem habitada pelo mar
a imagem e o rádio não tem corpo
não acabam não morrem
a onda de rádio a onda de televisão
são a nossa parte fantasma
quando penso no mar e penso muito
imagino nossos mortos doando seu corpos aos oceanos
a espuma de nossos mortos rugindo
eles estão bravos conosco
o céu e o inferno são os pontos cardeais de uma mesma onda
arrebatando em cheio
a costa do mundo dos vivos
o mar não é aquele oficializado
pelo azul faber castel do maternal
as garras irreais do pincel de gogh ou volpi
é um mar dessintonizado o nosso mar
tem o ruído de um velho filme
um mar granulado com excesso de sais
um mar em baixa resolução
um mar de interferência feito das
mais diversas frequências de onda
que jogamos ao espaço
tentativas de conversas ao léu
sinais da velha piscadela
do pulsar na constelação de leão
um mar chuviscado
contendo todas as moedinhas que jogamos nos poços
pedindo aos deuses dias melhores
um mar pixelado, os pontos são
todas as pedras que jogamos nos lagos
para por um segundo vê-las quicar sobre a água
denunciando assim a parte pedra da água também
larga pretensão de crescer falha
contra o estatuto das coisas
um mar de pedras aéreas
zunindo
falando sem parar nossos
segredo contra nós
um mar de vozes empilhadas
um mar é onde a imagem não cabe
o mar como sendo um lugar onde a imagem não cabe
onde a voz não sai ilesa
o mar como sendo um lugar onde a imagem não cabe
onde a voz repete a si mesma.
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